11 março 2008

3. A LOUCURA DA CRUZ E O ESCÂNDALO DA GRAÇA – PARA OS CRISTÃOS

A Graça é hoje a mais escandalosa de todas as mensagens cristãs! No entanto, a única mensagem que existe em Jesus é acerca da Graça eterna de Deus. E a loucura da Cruz não deveria ser louca para nós, nem fonte de escândalo, posto que a mensagem da Graça é todo o ensino e vida de Jesus. É a Boa-Nova! É o espírito do Evangelho! Dessa mensagem procedem todas as outras, pois toda manifestação cristã verdadeira sobre a Terra é a demonstração prática do amor de Deus aos homens. Se o amor é a mensagem ética por excelência, vivenciá-lo só será, de fato, possível por meio da conversão à Graça, na qual nós respondemos com amor Aquele que nos amou primeiro e de forma absoluta e incondicional. Não há Amor sem Graça. Não há Graça sem entrega ao Amor. Deus é Amor! E amor é o fruto da atuação do Espírito da Graça em nós.

Mas, incrivelmente, estranhamos a Graça de Jesus, nos assustamos com ela. Digo isso me referindo aos cristãos, de qualquer veia do Cristianismo.

E não havendo entrega radical à Graça, passamos a aceitar passivamente e engolir tudo que carrega a nomenclatura cristã, mesmo que de Cristo pouco possua, visto ter negociado Este que é o conteúdo mais intrínseco da Mensagem.

Quem, sinceramente, não percebe que nós, cristãos - somos hoje, na maior parte dos casos, a repetição dos mesmos conteúdos contra os quais Jesus, os profetas do Antigo Testamento, Paulo, os apóstolos e a Palavra se levantam nas Escrituras?

Hoje as pessoas se convertem à "igreja", não à Cristo! É por esta razão que os conteúdos do Evangelho de Jesus estão tão adulterados entre nós. E pior: Parecemos estar com os sentidos embotados para esta percepção, de modo que o que hoje se vê é uma caricaturização de Jesus. O Jesus que nos foi apresentado é um "composer" do Jesus da "igreja", o qual é moldado para ficar "parecido" com o grupo religioso ao qual a pessoa pertence. Portanto, o Jesus da fé da "igreja", na maioria das vezes, é uma fabricação feita para validar as teses do grupo. E tal "Jesus" não faz nada de bom ou de mal que qualquer outro condicionamento mental, psicológico e cultural também não realize... A leitura do Evangelho que fazemos é uma "adaptação". E é também "num Jesus de terceira ou quarta mão" que a maioria das pessoas crê.

Posso asseverar, com convicção e tristeza, que na igreja evangélica atual, primeiro o indivíduo tem que ser salvo do "Jesus inventado"... Primeiro precisa ser salvo do Jesus dos evangélicos a fim de conhecer o Jesus do Evangelho.

É exagero tal dedução? Então, permita-se a uma reflexão honesta: E se Paulo estivesse presente num ano eleitoral no Brasil? Se visse e soubesse de todas as negociações de almas-votos que são feitas em Nome de Jesus? E se assistisse pela televisão a venda de todos os significados cristãos em objetos de energia espiritual pagã? E se visitasse uma "igreja" e assistisse filas de pessoas para andarem sobre sal grosso, ou para mergulharem em águas tonificadas do Jordão e a passarem pela Cruz de Jesus a fim de ganharem um carro zero, como pagamento pela sua crença? E se ele soubesse agora que a fé é um sacrifício que se expressa como dízimos, como troca de bênçãos por dinheiro, de cura pelo sacrifício de longas novenas e correntes, que só não são "quebradas" se a pessoa não deixar de largar sempre algum dinheiro no altar-bolso dos pastores?

O que enojaria a Paulo, todavia, seria ver pastores oferecendo o "sangue do Cordeiro" –e que no caso é um suco de uva — e, segundo o anúncio, a pessoa deve ir ao templo e levar para casa o "sangue do Cordeiro" a fim de ungir a casa de trás para frente e da frente para trás. O "Sangue do Cordeiro'' não é mais o que Jesus fez na Cruz, mas passou a ser um fetiche, uma regressão ao paganismo mais primitivo, uma mágica de bruxos, uma blasfêmia, um estelionato satânico dos símbolos de uma Verdade com a qual não se brinca impunemente.

Desse modo, Paulo veria aturdido o regresso da fé evangélica aos tempos dos cultos feitos a Baal, para as imagens de escultura, para um tempo onde nem sombra ainda havia das sombras das coisas que haviam de vir — coisas que, inclusive, perderam a simbolização em razão de Jesus haver sido o cumprimento de todas elas!

A carta aos Hebreus foi escrita por muito menos! O escritor de Hebreus diria que estão brincando com fogo ardente e consumidor e crucificando o Filho de Deus não apenas uma segunda vez, mas todos os dias — fazendo de Jesus um produto de barganha, fazendo do que foi feito por Ele, de Graça, de uma vez e para sempre, algo a ser vendido pelos camelôs do engano, em repetidos sacrifícios!

Meu Deus, e se... Paulo visse...!? Sim, se Paulo nos visitasse? Que epístola nos escreveria?

Ser evangélico para Paulo significava ter compromisso de fé e vida com o Evangelho de Jesus. Hoje, ser "evangélico" é pertencer a uma "igreja", uma instituição religiosa que roubou o direito autoral do termo e se utiliza dele praticando um terrível "estelionato" simbólico.

Hoje, de maneira geral, quando um evangélico "evangeliza", em geral, ele o faz a fim de que a "igreja" cresça como poder visível. Ou seja: "evangelização" significa crescimento numérico sob o pretexto de salvar as almas do inferno.

Quando Paulo evangelizava isto significava levar as pessoas à consciência da Graça salvadora de Jesus e da possibilidade da experiência da liberdade-salvadora, tanto na vida pessoal como também na comunitária. O resultado, portanto, não é o surgimento de um número a mais para as estatísticas celestiais, mas uma nova criatura que o Espírito da Graça, em Cristo, faz nascer no Novo Homem!

Desse modo, se Paulo estivesse vivo hoje, provavelmente, ele nos diria que nós ainda não somos convertidos, pois, voltamos atrás, e aderimos aos conteúdos que negam a Cruz de Cristo!

A doutrina do Purgatório é uma verdade existencial para todos os cristãos—incluindo os protestantes e evangélicos! E por quê? Ora, dizemo-nos "salvos" pela Graça, na chegada. Daí em diante, somos "santificados" pela Lei. Porém, tal "santificação" anula a Graça, segundo Gálatas 2.21, "pois, se a justiça vem pela Lei, Cristo morreu inutilmente!" Como "...se é pela GRAÇA, já não é mais pelas obras; se fosse, a GRAÇA já não seria GRAÇA", (Romanos 11.6); então, ficamos num purgatório existencial sobre a Terra, pois, nem nos tornamos filhos da Graça a vida toda e nem nos entregamos aos rigores da Lei com honestidade. Desse modo, não usufruímos nem a saúde e a paz que vem da Graça e, tampouco, conseguimos viver pela Lei. Ou seja: vivemos em permanente estado de transgressão e culpa.

E quanto mais existimos nesse "purgatório", mais orgulhosos, raivosos, arrogantes e mal-humorados nos tornamos, pois, no coração temos consciência de que não somos nem uma coisa nem outra: nem Gente da Graça e nem tampouco o Povo da Lei.

Então, nos tornamos os doentes que vendem cura! Nosso Cristianismo não se enxerga, não carrega nem os conteúdos do Evangelho e nem se parece com Jesus!

Jesus não veio ao mundo para criar um Circo, em alguns casos; uma Penitenciária, conforme outros casos; um Estado Soberano, conforme o Vaticano Católico e os "vaticaninhos" dos outros grupos cristãos; e, nem tampouco, um Hospício, como acontece em muitos casos!

Em Cristo não temos que ser pré-condicionados por nada que não seja o fundamento dos Apóstolos e Profetas, cuja Pedra Angular responde pelo nome histórico de Jesus, de Nazaré.

Quanto à igreja cristã, sabemos que ela não deixará de crescer em número e em poder terreno. Não. Seus templos estarão cheios e seu fervor religioso pode até aumentar, mas saiba-se que esse nosso Cristianismo não terá qualquer mensagem do Evangelho a pregar para as próximas gerações (com suas complexidades psicológicas e espirituais), a menos que se converta radicalmente à Graça (não como uma doutrina-teológico-moral), mas como a essência de nossa relação com Deus, o próximo e com o nosso próprio ser!

Nossa esperança é a possibilidade dele gerar consciências libertas do medo de ser e podendo experimentar a Graça de viver em Cristo, sem os temores que hoje são tão bem administrados pela "igreja", na sua obsessão de ser a "conquistadora" do mundo e de seus poderes — incluindo almas humanas —; embora não ajude as pessoas a terem uma alma para gozar a vida em Deus e Deus na vida, ainda na Terra!

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